A notícia da aprovação do projeto Palavras Criadoras pela FUNARTE, no final de 2010, me encheu de alegria. Confesso que não tinha muita esperança de conseguir a Bolsa de Circulação Literária. Imaginava centenas de concorrentes com temas interessantíssimos... Isso, apesar de minha total paixão pelo tema e pela certeza da relevância e importância de se divulgar a Literatura Indígena e, juntamente, a cultura dos povos originários deste país, tão invisíveis aos olhos da sociedade e governo.
Os únicos momentos em que os povos indígenas saem da obscuridade são os momentos de conflito, de violência, de tragédias, momentos que revelam o grande abismo que separa o Brasil dos povos que já viviam aqui antes da construção do Estado e da sociedade brasileira.
A possibilidade de levar o tema para comunidades também excluídas do bem viver do país torna esta tarefa ainda mais desafiadora, instigante e emocionante.
Os primeiros dois meses do ano foram de contatos e organização das oficinas: pesquisa sobre os autores indígenas, sistematização dos textos da literatura oral, leituras, descobertas, organização da exposição de fotos, seleção dos documentários a serem exibidos.
Além de postar o resultado das oficinas com fotografias e vídeos, relatos dos participantes, depoimentos, quero também compartilhar os momentos bons das viagens.
A primeira viagem de pré-produção foi para Juquitiba, onde Heloisa, Andreia e Silvia, da Secretaria de Educação, me receberam com muito carinho e total atenção ao projeto. A parceria se estabeleceu de imediato e foi muito além das minhas expectativas.
A possibilidade de trabalhar com todos os professores da rede municipal foi um presente enorme! Nossa sociedade tem jogado nas mãos dos professores toda a responsabilidade pela educação de nossas crianças. As famílias, por razões as mais variadas, que vão da necessidade de sobreviver à falta de consciência sobre seu papel, já não cuidam da formação das crianças. As mulheres, integradas à força de trabalho, deixam suas casas ainda de madrugada para, muitas vezes, cuidar dos filhos de outras mulheres que também estão na mesma rotina. Assim, as crianças têm pouquissima convivência com os pais e com os avós, com tios e primos, com a família, que nas aldeias indígenas, são o coletivo responsável pela transmissão da cultura e da tradição, pela formação daquela pessoa em um membro ativo e feliz da comunidade.
Por isso, a possibilidade de trabalhar com os professores, que hoje são "a família" de nossas crianças, ser tão importante e desafiadora.
vista geral de Cananéia |
orla de Cananéia |
A segunda viagem foi para Cananéia, onde fui recebida num dia chuvoso e frio pelo pessoal do Ponto de Cultura Caiçaras e da Rede Cananéia. Um encontro cheio de descobertas e de familiaridades com jovens conscientes de seu papel e ativos na sua comunidade.
Descobrimos, nessa conversa, que a data que eu propunha para a oficina em abril coincidia com um encontro de representantes de todos os Pontos de Cultura do Vale do Ribeira. Mais um presente dos espíritos protetores!!!!
Além do público do Ponto de Cultura Caiçaras terei o enorme prazer de estar com mais de 30 pessoas que atuam em várias cidades do Vale do Ribeira em seus centros culturais.
travessia de balsa de Iguape para Barra |
meu carro era o único na travessia da balsa |
Na próxima semana volto para lá!!!!
Angela querida, quanta coisa bonita! Espero que na sua jornada seja repleta de ótimos encontros.
ResponderExcluirUm abraço apertado com muita admiração,
Cristiana Ceschi