segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Fechando um ciclo



O tempo passou muito rápido e o período de seis meses da Bolsa de Circulação Literária da Funarte voou.... Agora em julho, encaminhamos o relatório final das atividades.
Esse apoio foi fundamental para o trabalho de pesquisa e organização de informações sobre a literatura indígena e também para aproximação com o público dos municípios contemplados pelo projeto.
Acredito que, como eu,  todos os outros bolsistas puderam enriquecer suas bagagens literárias e encantar o público com as histórias e belezas que as palavras criadoras carregam.

Mas o projeto não termina aqui! Tem muita informação ainda para postar aqui no blog e atividades que vão acontecer mesmo depois de terminado o apoio da Funarte.

Quero compartilhar com todos vocês as conquistas e descobertas do projeto, as alegrias e a vontade de que a viagem pela literatura indígena esteja só começando!

 
 O relatório enviado à Funarte, em capítulos....

O Projeto Palavras Criadoras foi realizado de fevereiro a junho de 2011, em cinco municípios dos Territórios da Cidadania Vale do Ribeira e Cariri, com um público total em torno de 1600 pessoas.
As oficinas de Literatura Indígena aconteceram em duas fases distintas no Município de Juquitiba, nos meses de março e maio, para um público de 732 pessoas, sendo 237 professores e coordenadores educacionais, e 495 crianças e jovens do ensino infantil ao fundamental II.
A grande maioria dos professores tem entre 23 e 45 anos, são nativos da cidade ou vivem em Juquitiba há muitos anos.  95% têm ensino superior, com formação em faculdades da região. O público jovem atendido tem entre 04 e 16 anos, em sua maioria são moradores da zona rural do município. Entre as atividades culturais a que têm acesso, estão principalmente assistir televisão,  cultos religiosos e o circo. Apesar de muitas pessoas incluírem o cinema nas fichas de avaliação, em conversas informais admitiam a grande dificuldade e o alto custo para o deslocamento até São Paulo ou Taboão da Serra, onde há salas de cinema. A grande maioria nunca entrou num teatro.
O município de Juquitiba, Território da Cidadania Vale do Ribeira, é muito carente, não tem indústrias ou comércio de maior porte. Vive basicamente da economia rural com agricultura familiar e atividades voltadas ao turismo, como casas de campo, pesqueiros, pousadas e esportes radicais.
Segundo a Secretaria de Educação, pela proximidade com São Paulo e pela grande carência de equipamentos culturais e educacionais, o município de Juquitiba tem ficado fora do roteiro das atividades culturais e educacionais ofertadas por programas governamentais ou iniciativa privada.



 

O segundo município a receber o projeto foi Iguape, Território da Cidadania Vale do Ribeira, mais precisamente a comunidade de Barra do Ribeira, a 25 km do centro da cidade. O público total das atividades ali realizadas foi de 254 pessoas, sendo 229 crianças e jovens, entre 04 e 18 anos, e 25 adultos.  Entre o público adulto havia professores, coordenadores educacionais, funcionários das escolas e membros das Associações dos Moradores da Juréia e Jovens da Juréia, parceiros do projeto. Quase a totalidade desse público adulto tem ensino superior.
 Essa localidade abriga uma população caiçara que ocupa a região há pelo menos 200 anos e absorveu muito do conhecimento indígena sobre o ecossistema local, modo de vida e expressões culturais. Famílias tradicionais na região tentam manter sua tradição apesar da grande pressão sobre esse território nas últimas décadas. Especulação imobiliária e a instalação do Parque da Juréia, há cerca de 20 anos, forçaram deslocamentos da população e grande perda econômica e cultural.
Nessa localidade, que tem cerca de 4 mil habitantes, não há equipamentos culturais. Nos finais de semana e férias essa população aumenta em até cinco vezes e a única opção de diversão são os bares locais. Também não há acesso à internet. Uma lan house e algumas pousadas têm acesso precário por antena. O sinal de celular também é péssimo, com poucas operadoras funcionando apenas em alguns pontos específicos do local. As Associações tentam instalar um tele centro em sua sede recém construída e têm a proposta de levar outras atividades culturais como cinema e teatro, além de incentivar as práticas tradicionais como a confecção de instrumentos e as festas religiosas. Na sede da Associação está sendo instalada uma oficina de marcenaria para incentivar a produção do artesanato, uma das poucas fontes de renda da comunidade, além da pesca e do trabalho nas pousadas e casas de veraneio.



A terceira atividade do projeto aconteceu na cidade de Cananéia, Território da Cidadania Vale do Ribeira, com um público total de 63 pessoas, entre dirigentes de Pontos de Cultura das cidades de Iguape, Cananéia, Pariquera- Açu, Registro e Miracatu, multiplicadores, ativistas ambientais, educadores, com idades entre 20 e 60 anos, a grande maioria com ensino superior.
Apesar da formação superior, do ativismo cultural e ambiental, e do papel social e político dessas pessoas, o conhecimento sobre a realidade e cultura dos povos indígenas era muito pequeno, muitas vezes carregado de preconceitos e estereótipos. O encontro foi dos mais produtivos e interessantes, com a possibilidade de abordar muitos aspectos, questões polêmicas e levar para o conhecimento desse público a beleza das narrativas tradicionais e da literatura indígena publicada.
O Município de Cananéia é um importante pólo turístico, recebendo um grande público interessado na história da cidade, nas belas praias e parques protegidos. Não possui cinema nem teatro, mas tem uma intensa atividade cultural e artística sustentada por grupos, ONGs, iniciativas privadas e públicas.
A quarta atividade aconteceu na cidade de Juazeiro do Norte, Ceará, Território da Cidadania do Cariri. O público total das oficinas foi de 112 pessoas, sendo  58 crianças entre 06 e 10 anos e 56 educadores, entre 20 e 50 anos, estes todos com ensino superior. 



 A cidade de Juazeiro do Norte, apesar de localizada no sertão do Ceará, tem uma boa estrutura que vem melhorando na última década com a instalação de indústrias, comércio, serviços, escolas, universidades e centros culturais importantes. A população tem acesso a bibliotecas, cinemas, teatro, apresentações musicais, festivais culturais internacionais promovidos pelo SESC e pelo Centro Cultural do Banco do Nordeste.
Apesar de todas as facilidades e oportunidades, da mesma forma que em outros locais, o desconhecimento sobre a cultura indígena, os preconceitos e estereótipos se repetem, afastando esse público do contato com a diversidade cultural do país.
A penúltima etapa do projeto aconteceu no município de Nova Olinda, Território da Cidadania do Cariri, a cerca de 65 km de Juazeiro do Norte. Nessa cidade o público total do projeto foi de 260 pessoas, entre jovens e educadores dos municípios de Nova Olinda, Barbalha e Santana do Cariri.  25% com curso superior e a grande maioria cursando o Fundamental II ou curso profissionalizante. As crianças do projeto Casa Grande, que também participaram da última oficina, têm entre 04 e 14 anos, cursando educação infantil e fundamental.
Apesar de a Fundação Casa Grande desenvolver um importante trabalho educacional e cultural na região, poucas pessoas dos municípios vizinhos freqüentam as atividades promovidas ali. O acesso à internet é precário e não há outros equipamentos culturais nesses municípios da região. Essa instituição oferece atividades de arqueologia, pesquisa, teatro, cinema, música, literatura, rádio e TV, cursos, oficinas, palestras, em sua maioria gratuita e de livre acesso.





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