terça-feira, 3 de maio de 2011

De volta a Juquitiba


No dia 4 de maio, o projeto Palavras Criadoras voltou a Juquitiba. Depois do trabalho com cerca de 200 professores da rede municipal de ensino,  chegou a hora de levar a literatura indígena para as crianças e jovens das escolas municipais de Juquitiba.

A programação começou com as escolas Fonte das Águas Claras e Raízes do Pau Brasil. No dia 6, foram visitadas as escolas Terra Nova, Paulino Ribeiro e Recanto das Caipunas. No dia 09 as atividades aconteceram nas escolas Jaime Alypio de Barros, Tereza T. Comolatti e Manacás dos Soares. No dia 11, encerrando essa fase do projeto, as oficinas foram realizadas nas escolas Bairro da Jacuba  e Altamiro Pinto de Moraes.





Dia 04 de maio amanheceu bem frio em São Paulo. Para chegar à escola Fonte das Águas Claras às 7h da manhã, peguei a estrada muito cedo, antes das 6hs. quando o dia estava apenas surgindo. Depois do município de Itapecerica da Serra, quando a área urbana vai ficando para tráz  e a Mata Atlântica vence por alguns momentos a rigidez dos tijolos e cimentos, a paisagem muda, o ar muda, é como estar muito distante de São Paulo, há apenas 30 minutos da Av. Francisco Morato .

A neblina cobria as montanhas ao longe, contrastando o verde escuro das árvores ainda pouco iluminadas com o branco das nuvens. Atrás de min, no leste, o sol começava a pintar o céu de cor de rosa e lilás. Como diria minha netinha Moa, um céu de menina começava a alegrar o dia.

A Escola Fonte das Águas Claras fica no bairro Palmeiras, no km 318 da Regis Bitencourt, à direita da estrada, um pouco antes da entrada para o centro de Juquitiba. Um lugar tranquilo, com ruas calçadas e casas térreas com jardins e muitas árvores. Foi fácil localizar a escola. Uma avó andava calmamente pela rua, acompanhando o netinho, todo agasalhado, com toca e luvas. Ela levava a mochila, ele tagarelava e saltitava logo à frente.. A escola estava logo ali, no final da, com a mata crescendo atrás, vigorosa e bela.




Uma fonte em alvenaria enfeita o páteo da escola, muito ampla e agradável. As professoras, que já me conheciam da atividade na Secretaria de Educação, esperavam. Juntamos duas classes do 5o. ano para a atividade da manhã. Uma turminha linda e animada, cheia de perguntas. As fotografias lindíssimas de Helio Nobre foram enfileiradas sobre bancos, no pátio da escola e chamavam muito a atenção das crianças. O vídeo Das Crianças Ikpeng para o Mundo, produzido pela ong Vídeo nas Aldeias foi o material que escolhi para ilustrar nossa conversa com as crianças. Uma forma de apresentar uma aldeia indígena para os alunos da cidade ou de áreas rurais, como nesse caso, sob o olhar das crianças indígenas. Com graça, humor, leveza, brincadeiras e muitos risos. Fórmula de sucesso garantido!! Os livros, as fotografias e a experiência de conhcer uma aldeia pelo vídeo causam grande impacto nas crianças. Eles ficam curiosos, querendo ler, querendo saber mais. O que também incentiva os professores a buscarem mais informações sobre os povos indígenas.
Depois de um chá quente para animar ainda mais o dia, me despedi dessa turminha. Uma nova escola me esperava.






No mesmo dia 4 de maio, a oficina do projeto Palavras Criadoras visitou a escola Raízes do Pau Brasil, no centro de Juquitiba. Mais um belo nome de escola que valoriza as belezas e riquezas naturais de Juquitiba. No Raízes o trabalho foi com quatro classes de alunos de 5a. série, duas no período da manhã e mais duas à tarde.A escola é bem grande, com muitas classes e fica bem no centro da cidade, numa colina com bela vista.

















Dia 6 de maio, novamente às 7 horas da manhã cheguei à escola Terra Nova, no Distrito dos Barnabés, há uns 8 km a frente, depois do centro de Juquitiba. Esse bairro é bem movimentado, com comércio local, uma pequena igreja na praça central. A escola fica um pouco escondida atrás da creche municipal, numa rua tranquila. É uma escola pequena e a oficina foi com uma turma do 2o. ano, menor em idade e número de alunos.




Ainda no período da manhã, uma outra oficina aconteceu na escola Paulino Bueno, no bairro da Palestina. Esse bairro abriga uma comunidade de muitos moradores, com sítios, pousadas e espaços de atividades de esportes radicais Bem equipada, no alto de uma colina com um lago próximo, a escola está bastante integrada à comunidade.


 
Um mural bastante criativo e uma sala com a produção de artesanato das crianças e pais reforça a identidade dessa escola. As professoras fazem um belo trabalho de conscientização das crianças e buscam atividades criativas que mobilizam toda a comunidade. Na sala de aula, os alunos finalizavam os presentes de dia das mães: carteiras feitas de embalagem tetrapark recobertas de tecidos com um belo acabamento. Até eu queria ganhar uma carteira daquelas!!!!


A oficina foi bastante animada com participação ativa de todos os alunos das duas classes de 5o. ano. As crianças tinha perguntas prontas, anotadas em seus cadernos, e levantaram muitos assuntos. Fizeram também uma pesquisa na bilbioteca da escola e trouxeram os livros de temática indígena para comentarmos juntos. Fiquei surpresa com a dedicação das professoras e alunos e muito feliz com o interesse das turmas. Livros de Daniel Munduruku, Ciça Fitipaldi, Kanatyo Pataxó, Yaguarê Yaman estavam ali, sendo manuseados pelos alunos, levantando questões. Uma bela surpresa!!! Um belo trabalho deselvolvido pela professora Santina!


No período da tarde fomos para a escola Recanto das Caipunas, no bairro das Caipunas. Uma escola bem pequena, num local afastado da cidade. Um bairro bem rural com poucas moradias. A estrada é cercada de muita mata e sítios com uma paisagem belíssima.

A previsão era da oficina acontecer com uma sala multiseriada, do 2o. ao 5o. ano, mas decidimos juntar todas as turmas, desde o pré, e a sala se encheu de rostinhos que iam dos 4 aos 13 anos. Os pequenos prestavam muita atenção, arregalavam os olhos de curiosidade, faziam perguntas, interagiam com as histórias e os meus comentários. Foi uma delícia compartilhar com eles o meu tempo! Foi divertido, gostoso e um aprendizado enorme para mim. As professoras participaram ativamente, ajudando a complementar informações úteis para as turmas.





Dia 9 de maio foi mais um dia de muita atividade nas escolas de Juquitiba. Um dia frio, com períodos de chuva. As estradas ficaram enlameadas e o ar muito úmido aumentava a sensação de frio. A primeira parada foi na escola Jayme Alípio de Barros, no bairro das Laranjeiras para oficina com crianças de uma sala multiseriada de 4º.e 5º. anos.

Uma das professoras conhece a aldeia Guarani do bairro do Jaraguá, em São Paulo. Já esteve lá com a congregação religiosa de que faz parte. Como tantas outras pessoas que visitam ou freqüentam as aldeias do povo Guarani, ela também nada sabe sobre a cultura desse povo. Sua riqueza, diversidade, idioma, narrativas. Uma atitude normal de quem visita o povo Guarani  é pensar que aquele local é uma “favelinha” e que aquelas pessoas são apenas gente pobre, sem pensamento, sem cultura, sem sonhos e muita história. Os visitantes levam roupas usadas, alimentos e sua religião. Mas não ouvem o que os Guarani têm para dizer. Suas verdadeiras necessidades que são o respeito da sociedade e dos governos à sua identidade, direito à terra, à cultura e à vida digna, dentro de seus costumes e sonhos.






A segunda escola visitada no dia 9 foi a Tereza T. Comolatti. Uma escola enorme com ótima estrutura física construída e doada à prefeitura pelo Grupo Comolatti que foi dono da fazenda de plantio de eucalipto onde a escola está localizada. A estrada até a escola é muito movimentada. Caminhões puxam toras de eucalipto o tempo todo. Em alguns pontos ainda existe mata atlântica fechada e a sensação é de que eu estava em plena Amazônia, vendo os caminhões levarem a riqueza da biodiversidade para transformar em madeira ou outros produtos.
Mais uma sala multiseriada de 4º. e 5º. anos. O professor Sérgio, que participou da formação na Secretaria de Educação em abril, contribuiu muito com a oficina, levantando assuntos com a classe. Como sempre, o vídeo encantou as crianças que perceberam algumas semelhanças na com as brincadeiras das crianças da aldeia. Nessas áreas rurais do município as crianças ainda brincam no rio, têm contato com casas feitas de pau a pique e cobertas de sapé, com objetos feitos de cipó ou palha, com armadilhas para pescar. Percebem a herança indígena na sua vida cotidiana.


A última oficina, no período da tarde, aconteceu na escola Manacás dos Soares, no bairro dos Soares. Esta escola foi construída em mutirão, tem quadra coberta, teatro, bons equipamentos.  É um belo exemplo do que uma boa administração aliada à participação ativa da comunidade pode gerar. O diretor Oscar apresenta com orgulho as conquistas da escola e acompanha de perto a oficina que juntou crianças dos 5 aos 13 anos, professores e outros funcionários.
Muitas perguntas, muitas dúvidas e  principalmente a consciência do quão distante está o povo indígena da realidade da escola brasileira.







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