quinta-feira, 14 de abril de 2011

De volta ao mar

Depois de uma semana intensa de atividades em Juquitiba voltamos a Barra do Ribeira.
Nessa viagem tive companhia. Minha filha Maira e minha netinha Moa me acompanharam num tempo de muita convivência e aprendizado pelo litoral sul de São Paulo.
Fomos recebidas com muito carinho por Dauro e Gilson, da União dos Moradores da Juréia e da Associação dos Jovens da Juréia. Dias lindos, de muito sol e céu azul, iluminaram ainda mais as atividades nessa vila de gente batalhadora e orgulhosa de suas raízes.

 

É certo que nem todos, como em qualquer lugar do mundo, reconhecem o valor de sua tradição e conhecimento. Principalmente alguns jovens que buscam outras referências e se perdem nos modismos e na ilusão da “modernidade”. Mas a riqueza cultural e a consciência das crianças e jovens que conhecemos superam esse descompasso.
As oficinas na escola municipal Abigail Forte Martins foram marcantes. Apesar de uma sala lotada com cerca de 80 crianças, seus professores e outros convidados, a conversa fluiu com muita tranqüilidade em meio a perguntas e curiosidades das crianças. Eles foram muito acolhedores e carinhosos, demonstraram respeito pela diversidade cultural e muito interesse pelos livros e vídeos, pelas fotografias de situações de aldeia e pelas narrativas tradicionais.
Eles reconhecem a sua herança indígena, o conhecimento tradicional que seus antepassados souberam compartilhar com os povos indígenas da região e percebem que os desafios que enfrentam hoje são muito semelhantes aos dos povos indígenas.




A experiência na escola estadual não foi tão tranqüila quanto à do dia anterior. Não houve um comprometimento verdadeiro por parte da direção da escola e dos professores com a proposta do projeto Palavras Criadoras e isso se refletiu no comportamento dos jovens.  Pouca atenção de uma boa parte dos alunos, desrespeito por parte de alguns jovens,  ausência de professores.
 



Ao final da atividade, para nossa surpresa, muitos jovens permaneceram para uma aproximação maior com os livros, trazendo questões e comentários muito interessantes, se dizendo envergonhados com o comportamento de poucos. Na verdade, a rebeldia e a reação diante da questão indígena revelam a grande distância desses jovens das suas origens e de sua maior riqueza: a cultura caiçara. Eles se envergonham de ser caiçaras e buscam se distanciar do que consideram um peso em suas vidas.
 





O povo indígena para eles, como para grande porcentagem da população brasileira, é um obstáculo ao avanço, ao progresso, à entrada no primeiro mundo “civilizado”.
Para nossa alegria, o sorriso sincero das crianças e seus relatos sobre o conhecimento dos avós são as imagens que trazemos em nossa memória. Foram quatro dias intensos de convivência e muitas trocas que vão permanecer.
Agradecimentos muito especiais a Dauro e Gilson e a toda a equipe da escola Abigail Forte Martins.

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